Essa é uma expressão muito comumente usada no nosso cotidiano: o gatilho. Neste artigo, gostaria de explorar o que é isso, como funciona e como tratá-lo — especialmente no ambiente corporativo.
O que é um gatilho emocional
O gatilho é um disparador. É uma engrenagem psicológica que, uma vez apertada, dispara toda uma estrutura explosiva cujo objetivo principal é a defesa ou o ataque.
Isso vale para um revólver — ou para nossa estrutura emocional. Todos nós já lidamos com isso internamente ou em alguma relação, seja na vida pessoal ou profissional.
A reação não é ação
Paralelamente, nossos gatilhos são também nossa maior oportunidade de aprendizado emocional. Eles revelam questões profundas que carregamos e nem sempre temos coragem de olhar com verdade — especialmente dentro das empresas.
A esmagadora maioria das pessoas reage aos desconfortos emocionais que emergem internamente, ao invés de usá-los para amadurecer.
Reação não é ação. A reação é a falta de escolha frente a um estímulo. A ação é o ato consciente de escolher diante da vivência que estamos tendo.
A mente inconsciente e suas associações simbólicas
De forma didática, nossos gatilhos são mecanismos que tentam nos defender de ameaças aparentes por meio de reações. O problema é que a mente inconsciente não distingue o real do simbólico.
Ela não sabe diferenciar uma ameaça real — como um cachorro correndo atrás de nós — de uma ameaça imaginária, como a sensação intensa de perigo que não existe na realidade.
A mente inconsciente funciona através de associações simbólicas — expressão usada pela psicanálise para descrever como o psiquismo interpreta o mundo.
Um símbolo é a representação de um significado ou ideia. Por exemplo: a aliança é apenas um símbolo do casamento — não é o casamento em si.
Da mesma forma, quando nossa mente identifica um símbolo inconscientemente associado a uma experiência não resolvida, surgem sintomas físicos e emocionais: stress, taquicardia, medo, dor etc. Esses sintomas são o que chamamos, no senso comum, de gatilhos.
O passado sempre presente
Em outras palavras, nossos gatilhos são reações inconscientes a algo que um dia foi uma ameaça e continua registrado como tal.
Quando a simbologia de uma situação atual se conecta, inconscientemente, a experiências passadas mal resolvidas, o gatilho é acionado. E reagimos como se estivéssemos revivendo o passado — lutando contra ameaças que já não existem.
Isso pode acontecer com qualquer pessoa: um colega que explode por qualquer coisa, um chefe que não tolera discordâncias, ou um liderado com quem precisamos “pisar em ovos” para dar feedback.
O exemplo extremo: o ex-soldado
Pense em um ex-soldado que viveu experiências intensas de guerra e não fez um trabalho psicológico posterior. Para ele, o estouro de um balão em uma festa pode ser interpretado inconscientemente como uma granada explodindo.
Pouquíssimos de nós foram à guerra — mas todos tivemos uma família. Pais, mães, irmãos, tios… que deixaram registros positivos e negativos.
Hoje, estudos científicos comprovam que a infância em ambientes disfuncionais — sem segurança emocional — impacta diretamente a qualidade emocional do adulto.
A infância emocional de todo profissional
Todos carregamos marcas de insuficiências, faltas, carências e vazios. Mesmo os melhores cuidadores jamais conseguiriam preencher todas as necessidades de um ser humano em seus primeiros anos de vida.
Fala-se muito sobre saúde emocional no trabalho, mas ainda de forma precária e superficial. Nossa saúde emocional não pode ser dissociada de como aprendemos a nos relacionar — e isso começa na infância.
Nossos gatilhos precisam de um outro para existir
Os gatilhos nunca são disparados sozinhos. Sempre há um outro envolvido. É no contato, no conflito, na divergência, que nossos sistemas inconscientes são ativados.
Nas empresas, lidamos o tempo todo com limites, prazos, pressões, críticas e feedbacks. E é nesse terreno que os gatilhos florescem.
Sem consciência sobre eles, sucumbimos ao mais ordinário das relações profissionais.
Transformar exige consciência
Sem consciência, não há mudança. E mudança real exige transformação dos caminhos inconscientes da mente, o que requer prática.
Caso contrário, passaremos a vida racionalizando nossas reações: culpas, medos, vergonhas e frustrações desproporcionais — sem tocar na raiz emocional.
Trabalho com muitos executivos, líderes e atletas de alta performance, e aprendi que o primeiro passo é enxergar e dissociar o gatilho da realidade.
É difícil, pois a experiência emocional é sempre real. Mas é possível. E libertador.
Escutar é sinal de maturidade emocional
A escuta é uma das ferramentas mais poderosas para medir maturidade emocional. Escutar não é concordar. Escutar é absorver o que o outro diz sem receber como ataque.
Enquanto não formos capazes de escutar sem reagir, seremos prisioneiros de reflexos emocionais que tentam nos proteger de ameaças inexistentes.
Pensar e escutar precedem decisões maduras e criativas. Quando reagimos, deixamos de pensar. E decisões tomadas sem pensamento — apenas por gatilho — destroem equipes, objetivos e culturas organizacionais.
Conclusão
Os gatilhos emocionais são inevitáveis. Mas a imaturidade emocional é opcional. Aprender a reconhecer, acolher e ressignificar nossos gatilhos é o que separa líderes que apenas reagem de líderes que realmente transformam pessoas e empresas.
Caso tenha interesse em promover treinamentos ou palestras sobre saúde emocional e maturidade corporativa, entre em contato.
