Os grandes males do século são a ansiedade e os distúrbios psicológicos. Isso já não é novidade para ninguém e, ainda assim, ninguém sai ileso. Em algum nível, todos somos afetados e temos que lidar com eles.
É muito comum, em minhas palestras nas empresas, eu pedir para levantarem a mão, todos os que sentem, em alguma medida, ansiedade no cotidiano. Normalmente, todos levantam a mão, ou algo muito perto disso. Isso, para mim, é sempre muito impressionante.
A dura realidade é que essa precariedade emocional impacta a qualidade de qualquer coisa que fazemos. A ansiedade é como um ruído que está sempre ali, vezes mais forte, vezes mais fraco. Há momentos em que ela se retira ou ameniza, mas insiste em voltar. Não falha. Contamina todas as ações, ideias, pensamentos, de forma nem sempre clara e nem sempre perceptível, e aí é que mora o verdadeiro problema.
A ansiedade é um problema invisível, que ninguém sabe muito bem como lidar. E que vai acabando com a performance, com a produtividade e com a força individual, de forma lenta. E por não termos ferramentas suficientes para lidar com ela, a deixamos ali. Às vezes damos conta de abafá-la e às vezes ela grita.
Será que dá para resolver isso?
E a resposta que vem agora é categórica:
NÃO.
Não temos como resolver uma questão psicológica que é uma tentativa, de parte da nossa mente, de seguir sobrevivendo em um mundo em que tempo e distância são conceitos que cada vez mais perdem seu significado.
Com um arrastar de dedos, sabemos das desgraças do outro lado do planeta. Com um clique enviamos uma mensagem que cai na cabeceira, ao lado da cama de alguém. Não há como uma mente funcional não sofrer consequências desse novo compasso de vida.
E o principal sintoma disso, já sabemos. Mas se não há nada que podemos fazer para erradicar essa questão, o que podemos fazer?
A saída que encontro talvez soe pouco óbvia: precisamos aprender a linguagem da ansiedade. Como ela se comunica, como se manifesta e se expressa. Eu chamo de linguagem, pois para aprendermos sobre o que proponho, precisamos estar minimamente alfabetizados na nossa capacidade de sentir as coisas, para então podermos dar nome a elas.
Ansiedade é um sintoma completamente inespecífico, é um mal-estar generalizado. Um desconforto conhecido, com algumas implicâncias fisiológicas. Coração bate mais forte, palpita, há falta de ar, insônia, estresses crônicos, cansaço, e etc. Essa lista é longa.
No entanto, como sempre falo no meu consultório e nos treinamentos que realizo no corporativo, nós somos dotados de um sistema psicológico tão complexo que damos conta de sentir muitas coisas ao mesmo tempo. E quando alguns desses sentimentos não tem espaço, ou talvez, nunca foram sequer percebidos, nós produzimos algo que aprendemos a chamar de ansiedade. Uma verdadeira receita de bolo, com vários ingredientes.
Quase como um artesanato psíquico, uma junção de diversas coisas que não damos conta de sentir ou nomear. Sim, tem sentimentos que não damos conta de sentir, são desconfortáveis demais e conseguimos realizar a proeza de escaparmos de nós mesmos. Essa resistência e fuga do sentimento se torna um hábito. E principalmente, quando esse subterfúgio se confunde com algo que gostamos, como nosso trabalho ou nosso hobbie. Isso é muito comum com executivos e funcionários do corporativo ou atletas.
Um dos sentimentos que invariavelmente encontramos na composição dessa miscelânea emocional que chamamos de ansiedade, é o medo. O medo de dizer não. O medo de sermos rejeitados. O medo de falhar na frente do outro, o medo da solidão.
Tenho atendido no meu consultório vários executivos que morrem de medo da solidão. E isso tem se repetido com alguma frequência. São pessoas que seguem em casamentos infelizes, trabalham mais do que conseguem, não sabem se relacionar afetivamente com os filhos, não conseguem se desconectar do trabalho, e por aí vai…
O medo é um dos componentes fundamentais da ansiedade, e caso não seja nomeado, percebido e contido, a ansiedade ficará se repetindo e se agravando em um ciclo infindável.
O que estou dizendo, de forma objetiva: precisamos aprender a reconhecer os ingredientes desse bolo ansioso, para desmembrar a ansiedade e torná-la mais branda. Ou para desenvolver a capacidade de percebê-la apenas em um aviso da nossa mente, de que algo não está certo.
Sim, a ansiedade é um sinal, ela nos fala sobre algo que não temos ainda habilidade ou sensibilidade suficiente para reconhecer. E, para tanto, para aguçarmos nossa percepção dos sinais que recebemos do nosso íntimo, precisamos nos letrar emocionalmente, precisamos aprender a ganhar subjetividade e consciência sobre nós mesmos.
Isso não é fácil. Mas é o único caminho.
Para aprendermos sobre o que estamos sentindo, precisamos sentir. Parece óbvio, mas não é, pois isso também requer aprendizado. Nem todo mundo está disposto a sentir. Sentir as coisas é desconfortável, é incômodo, sobretudo, quando falamos sobre os medos que nunca pudemos reconhecer. É vulnerável demais, ameaçador demais, sentir de verdade algo incômodo ou até mesmo, o lado oposto, o bom, o desejo, a alegria. Então deixamos de lado, voltamos para o morno, e nesse instante escolhemos inconscientemente a ansiedade.
Há um custo envolvido em crescer e ter novos resultados, e esse custo não é baixo, mas é a única possibilidade de uma transformação palpável para novas conquistas, novas mudanças e novas transformações. E esse custo está no desenvolvimento e na expansão da nossa capacidade de sentir, perceber e nomear as influências do que ainda está em uma camada inconsciente do nosso sistema.
