Lucas Clima: Palestra sobre Como Dissolver o Conflito Entre Alta Performance e Saúde Mental no Ambiente Corporativo e nas Organizações

Lucas Clima, palestrante, escalador profissional e psicanalista especializado no atendimento de atletas de competição e líderes corporativos, tem se aprofundado na relação entre alta performance e saúde mental. Em suas palestras, ele compartilha sua vivência como escalador de alto desempenho e suas observações clínicas, ajudando organizações e indivíduos a alcançarem grandes resultados sem comprometer o bem-estar emocional.

O Contexto: Alta Performance e Saúde Mental

A alta performance e a saúde mental são frequentemente vistas como incompatíveis. A sociedade, especialmente o ambiente corporativo, acredita que alcançar grandes resultados exige sacrifícios na saúde emocional. Alicerçado pela minha clínica com pacientes atletas e líderes do corporativo, venho conseguindo quebrar esse paradigma.

O verdadeiro desafio está em entender como e por que buscamos esses resultados. A pressão por performance é natural e pode ser suportável, desde que aprendamos sobre como nos relacionamos com nossas emoções, e dependendo se nosso mecanismo de autovalidação está funcional ou em pedaços.

A dificuldade de autovalidação começa na infância, quando somos moldados por ambientes que não nos permitem sermos genuínos. Para nos adaptarmos e sermos aceitos, o sistema psicológico muda nossas reações naturais, criando uma desconexão interna. Na psicanálise, chamamos isso de defesa. Essa adaptação resulta na repressão de emoções essenciais, como a raiva ou a tristeza, o que tem um alto custo emocional. O burnout, a ansiedade e o overtraining são sintomas desse processo: tentativas de atender às expectativas externas, sem respeitar nossos limites e desejos internos.

Essas afirmações podem soar exageradas. Como a minha infância e a história do meu desenvolvimento psicológico impactam na minha performance e na minha saúde mental? Sim, parecem ser tópicos distantes e desconexos, mas não são. Só podemos ter a percepção real do como ou do por que fazemos aquilo a que nos propomos, se estivermos sintonizados a nós mesmos. Existe uma subjetividade nisso, mas seguirei a explicação para que isso fique mais palpável.

Frodl, T., & O’Keane, V. (2021). Impact of Stress on Brain Structure and Function: Implications for Clinical Psychiatry.The Lancet Psychiatry.

Green, J. G., et al. (2020). The Impact of Adverse Childhood Experiences on Health and Well-Being Across the Lifespan.American Journal of Preventive Medicine.

A Alta Performance e Seu Custo Real

A alta performance tem, sim, um custo, mas esse custo não precisa ser a saúde mental. Existe um custo inegociável, que é a dificuldade de sustentar uma performance elevada ao longo do tempo, ou de outros aspectos da vida de que abrimos mão em prol dessa profunda dedicação para algo que nos move. Isso faz parte. Manter um nível alto de desempenho exige disciplina, resiliência e ajustes constantes. No entanto, a alta performance não precisa resultar necessariamente em prejuízos emocionais. Estes podem ser evitados, mas é preciso que se desenvolva percepções sobre aspectos muitas vezes pouco abordados pelo senso comum.

A Dissolução do Conflito: Percepção, Desequilíbrio e Sabedoria

Quando se fala e se busca a alta performance, a ideia de equilíbrio, embora muito atraente, é um conceito falho. É impossível escalar uma montanha desafiadora de forma equilibrada e sem e desafiar limites. O verdadeiro conflito entre saúde mental e alta performance não está na busca por um equilíbrio ilusório, mas em não ter a percepção de quando o desequilíbrio se torna insustentável ou, o que é ainda pior, quando ele nos desconecta da nossa essência.

“Não há como almejar a alta performance sem entender que o equilíbrio, na forma como é convencionalmente visto, é um mito. Grandes resultados não são alcançados com tranquilidade; são frutos de desequilíbrios momentâneos, riscos calculados e escolhas difíceis.”

O desafio maior está em discernir os momentos em que, mesmo cansados, precisamos seguir em frente, e os momentos em que, apesar de nos sentirmos inteiros e capazes de seguir, precisamos parar.

Este discernimento não vem da lógica ou de uma fórmula de equilíbrio perfeito. Ele vem de um processo de percepção afiada, que nos permite diagnosticar a linha tênue entre persistir ou recuar, entre arriscar e preservar. E muitas vezes essas decisões são contraintuitivas.

Na prática da escalada, por exemplo, há momentos em que a decisão de continuar em uma condição física e mental extenuante é, na verdade, a única possibilidade de se manter íntegro. Seguir em frente pode ser o único caminho para a segurança, porque o risco de retroceder ou parar pode ser ainda maior. Porém, há outros momentos em que, mesmo estando aparentemente aptos, a sabedoria está em parar, para nos preservarmos para momentos mais críticos ou para dar sustentabilidade a uma jornada de longo prazo. Não há um único caminho certo para a alta performance, mas sim a busca por um equilíbrio desequilibrado.

A analogia da escalada é bastante óbvia, mas o mesmo acontece no contexto corporativo ou de alto rendimento, em momentos que a pressão por resultados pode levar a decisões impulsivas de seguir em frente quando, na verdade, o melhor seria fazer uma pausa estratégica — seja física, mental ou emocional — para evitar o esgotamento a longo prazo. Essa percepção, portanto, não é apenas sobre o que se faz, mas sobre como e por que se faz. Saber quando seguir, mesmo cansados, e quando parar, mesmo sem atingirmos a exaustão, é o que torna possível sustentar a alta performance sem que ela se torne autodestrutiva.

A Percepção: O Pilar para Dissolver o Conflito

A chave para dissolver o conflito entre alta performance e saúde mental é desenvolver a percepção de si mesmo, afiá-la. Isso exige uma reconexão com nossas emoções, algo que muitas vezes esquecemos na busca pela validação externa, ou desconsideramos, pela cultura do corporativismo. A pressão por atender expectativas — de outros ou de nós mesmos — é fruto de uma desconexão profunda, na qual deixamos de ouvir os sinais que o corpo e a mente estão nos dando. A reconexão, para que esses sinais sejam percebidos, e o entendimento de quando é hora de seguir em frente ou de parar, são as habilidade fundamentais para alcançar a alta performance de forma sustentável e saudável. E isso se torna possível a partir da prática cotidiana da autopercepção, do erro e do acerto, e da coragem de podermos frustrar e desagradar para sermos o que precisamos ser.

Essa reconexão não acontece da noite para o dia. Ela exige esse trabalho contínuo, uma reflexão constante sobre nossas necessidades reais. Quando conseguimos acessar e validar nossas emoções mais profundas, encontramos um equilíbrio dinâmico — um equilíbrio que nunca será estático, mas que se ajusta conforme o nosso caminho e os desafios que enfrentamos.

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