QUANTO VOCÊ ESTIMULA O SONHO DA SUA EQUIPE?

Uma peça fundamental para a performance

Perdi as contas de quantas vezes eu preciso fazer um trabalho com meus pacientes para  que eles voltem a sonhar. Para resgatarem sua capacidade de produzir sonhos em seus pensamentos. Isso não se reserva apenas aos meus pacientes que são executivos em empresas, ou ao ambiente corporativo em si. Isso está entranhado na cultura ocidental contemporânea em que estamos inseridos.

Sonhar não é um ato tão fácil quanto pode parecer, muito pelo contrário. Existem forças fortíssimas culturais, sociais e familiares que impedem que o ato de sonhar possa acontecer. E, surpreendentemente, a raiz do sonho está em uma das maiores forças psíquicas que existem: o desejo. Se não aprendermos, ou reaprendermos, a resgatar o desejo, algo tão básico e fundamental que rege nossas existências, nunca atingiremos nossa real potência como pessoas e seres em desenvolvimento.

Hoje, o ato de sonhar pode, inclusive, ser ridicularizado, e muitas vezes costuma ser. Aprendemos a censurar e a diminuir nossos sonhos de criança, nossas vontades “bestas” de realizar coisas pequenas ou grandes, de ter vivências reais ou mesmo de ter coisas, família, casa ou objetos.

Por alguma razão, a qual buscarei explanar neste artigo, paramos de poder querer de forma autêntica, sem motivos ou pretextos. Vivemos um momento em que precisamos constantemente explicar o que brota em nós. Paramos de desejar sem justificar, uma condição tão básica de quando éramos crianças, que se perdeu para uma tentativa voraz, invariavelmente malsucedida, de suprir carências estruturais não atendidas através de nossas realizações, ou do consumo, que entrou no lugar do que eu chamo de sonho.

Justo aí reside a diferença entre a vivência e a sobrevivência.

Não há nenhuma realização grandiosa, feita pela humanidade, que não tenha sido idealizada por uma mente humana antes. Desde grandes peças arquitetônicas, invenções tecnológicas a experiências transformadoras. A idealização é uma das grandes qualidades das nossas mentes e precisa ser exercitada como se fosse um músculo, caso contrário, atrofia ou pode nos levar a infernos inimagináveis.

No minha clínica, percebo que muito da nossa capacidade idealizadora está investida nas possibilidades negativas futuras, está a serviço de nossos traumas, de nossos medos e de como seguiremos sobrevivendo em meio ao caos contemporâneo do dinheiro, do status, dos embrólios familiares e das desavenças amorosas.

Vivemos em uma era tão assustadora psicologicamente, que desperdiçamos uma das maiores potências da mente humana, a idealização, em prognósticos futuros catastróficos, sobre como supriremos nossas carências não tratadas, ou mesmo em como sobreviver a todas as ameaças que nossa própria mente produz.

Acontece que há uma diferença estrutural entre a noção de viver e a de sobreviver. Uma perspectiva pouco identificada no ambiente corporativo, porém, muito vivida e que gostaria de refletir aqui. A sobrevivência tem sua raiz no medo e a vivência no desejo. São duas estruturas que se originam de lugares diferentes, ainda que possam parecer a mesma. As duas são igualmente necessárias e sem elas, não estaríamos aqui. Se não tivéssemos um senso psicológico inconsciente e urgente de sobrevivência, sem dúvidas, nossa espécie já teria sido dizimada. E se não conseguíssemos sonhar, tampouco produziríamos a diversidade e a riqueza da experiência humana, necessária para a vida.

O problema é que nossa educação está voltada predominantemente à sobrevivência, ao medo, e não à vivência. Mesmo que nada realmente ameaçador esteja acontecendo do lado de fora, nosso sistema nervoso está em constante alerta, produzindo ansiedades, angustias, medos e narrativas difíceis de absorver.

É como se tivéssemos aprendido apenas a viver sobrevivendo. E isso tem uma origem. É um aprendizado emocional que teve início em nossas infâncias, em nosso momento mais estruturante psicologicamente. Hoje, está cientificamente comprovado por diversas pesquisas, como [ESSA], que, se não tivermos um ambiente estável e confiável para desenvolvermos o aprendizado inicial de lidarmos com nossas emoções, nossa mente desencadeia uma forte propensão a viver em estados de sobrevivência e de alerta em nossa vida adulta cotidiana. Todos nós, em alguma medida, passamos por isso.

Não estou aqui para ficar voltando a cada uma de nossas infâncias em famílias disfuncionais, ainda que seja o caso da esmagadora maioria das pessoas, para não dizer todas. Para mim, essa é a história do ser humano, a história de algum trauma. E para atravessarmos nossos maiores desafios emocionais, precisamos aprender ferramentas psicológicas internas para lidar com a incapacidade da vivência, e com a constante lida com a sobrevivência.

Um dos aspectos determinantes para esse resgate é o aprendizado do sonho e do desejo na vida, não apenas em nossas profissões. O sonho é a força que nos atrai e o desejo a força que nos movimenta. Um puxa e o outro empurra. A busca pelo encontro dessas duas forças em nós é o que, na minha opinião, torna possível o movimento de sairmos do campo da sobrevivência rumo à entrada no campo da vivência. A saída da influência permanente do medo para a entrada na influência do desejo é a trajetória exclusiva de quem quer construir uma vida com maior qualidade emocional.

Mas, para isso, precisamos do sonho. Daquele sonho infantil. Do acesso às nossas vontades bestas, vistas muitas vezes como ridículas. Em um mundo onde fica cada vez mais difícil de sonhar. Algo difícil de entender é que sonhar não é, em nenhum nível, garantia de realização. No entanto, é o uso de uma das nossas maiores forças internas para propulsão de nossas vidas, independentemente da real possibilidade ou da probabilidade de qualquer realização.

O mais irônico, é que no ambiente corporativo isso é permitido: as metas e objetivos não passam de tentativas de desejos e de sonhos, camuflados por uma roupagem organizacional. Mas quando voltamos para o individual, isso se torna tabu. Querer algo por nós mesmos, é o que desafia a cultura estabelecida de círculos sociais, familiares ou mesmos profissionais, é algo que requer muito trabalho. Por isso, só vem com muita prática.

Outro aspecto importante, que impede categoricamente que esse movimento de saída do medo aconteça, é a confusão entre desejo e carência. Quando não olhamos com verdade, repetida e consistentemente, para nossas carências, traumas e medos profundos, não temos absolutamente nenhuma possibilidade de nos conectarmos com nossos desejos autênticos. E as carências entram em seu lugar de forma imperceptível, mas brutal. A busca pelo sonho genuíno, se torna a tentativa falha de preenchimento de buracos existenciais.

Podemos querer ocupar posições mais altas, de maiores responsabilidades, com o intuito de preenchermos um vazio que sentimos (estado de sobrevivência) ou podemos desejar a mesma coisa por um fluxo da vida, um desejo autêntico (estado de vivência). Essas coisas sempre caminham juntas e se camuflam uma na outra. Por isso, esse trabalho interno é tão complexo e labiríntico, mas precisa acontecer se quisermos despertar nossos maiores potenciais. Principalmente dentro das profissões que escolhemos realizar.

E a única bússola que temos para fazer esse trabalho é a nossa percepção, e a nossa intuição. Nunca vi, no meu consultório, um caso sequer de burnout em executivos que estavam realizando seus desejos autênticos em suas funções, por maiores que fossem suas cargas de trabalho ou desafios enfrentados. Paradoxalmente, todos os casos de exaustão crônica que atendi, sejam de gestores ou atletas, eram de pessoas que estavam em busca de preencher suas angústias com realizações, que se fossem olhadas externamente, seriam muito parecidas com as de quem estavam em busca de sua autenticidade através de seus desejos. Esse é o perigo desse caminho.

O desejo para, por nossa própria censura. É como se não pudéssemos querer. É, de certa forma, como se apenas pudéssemos querer coisas específicas, dentro do que é aceitável em nossa família de origem, em nossa cultura ou na camada social e profissional em que estamos inseridos. O ato de sonhar ou de desejar, é um gesto muito forte psicologicamente, que fura as bolhas do medo. O próprio ato de sonhar algo disjuntivo, dá medo. E, por isso, é impossível atravessa-lo sem desejos fortes e, por fim, é impossível aprendermos sobre nossos próprios desejos se não aprendermos sobre o que são e como funcionam as nossas carências.

O resgate do sonhar é a maior possibilidade do desenvolvimento da virtude da coragem, pois sem sonho, não há vontade; sem vontade, não há movimento; sem movimento, não há coragem e muito menos realização. Essas capacidades estão entre as mais valiosas dentro de um ambiente empresarial, a ação e a coragem.

Se sua equipe não consegue sonhar ou desejar em suas vidas pessoais e profissionais, você está longe de atingir a performance em níveis mais altos. Entre em contato para palestras e treinamentos sobre esse tema.

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